Se o Corja se propõe a falar de gauchismo e noventismo não posso deixar escapar esse tópico: Garagem Hermética. Bar fundamental em vários aspectos para o fortalecimento daquele cena udigrudi que pintava nos anos noventa.
Na virada dos oitenta pros noventa uma nova onda estava pintando em Porto Alegre. Depois de seguir o que rolava na gringa, sempre com aquele clássico atraso de tempo. Como alguns mais metidos à besta costumam dizer "tudo que sai lá fora demora no mínimo uns cinco anos pra chegar no Brasil". A gurizada de hoje em dia não consegue entender quando alguém diz uma coisa dessas, mas há uns vinte anos atrás era verdade. Com certeza esta idéia de "delay cultural" pegou e ainda vigora. Mesmo num mundo globalizado, ou melhor linkado. Mas ali, no comecinho dos noventa parecia que a coisa no mundo tinha ficado meio devagar. Não era mais punk, não queria ser pop, tava meio cansado dos setenta, os oitenta foram divertidos mas e aí?
O lance era inventar. Cada qual a sua maneira, pega um pouco de funk daqui, um pouco de punk dali. De repente novas levadas com velhos ritmos rearranjados. E desta vez a parada rolou quase que simultaneamente no rock alternativo internacional, nacional e regional. Pra dar vazão a essa galera, que queria o novo, novas propostas de espaço foram surgindo. Alguns já estavam na batalha como o Ocidente e o Porto de Elis que acolheram na boa essa nova, e por vezes não tão nova assim , leva de artistas. Outros se firmando ou surgindo no meio do turbilhão. Desse segundo caso o Garagem é o mais emblemático.
Toda a proposta corjeana gira em torno de lembrar e respingar um pouco da sujeira daqueles anos no quadro de cores pálidas dos dias de hoje. Sem querer voltar no tempo, só se for uma volta pro futuro. Quem já leu nossos editorias do site e do pocast sabe do que estou falando. Quem acompanha os textos aqui publicados também sabe que aqui se faz destacar uma visão com relação aos fatos. Que aqui mora "uma" verdade, que é contemplada por um ponto. Sendo assim.
Qual dos ângulos posso destacar sobre o Garagem? Comentando os shows que vi por lá? Lembrando as apresentações que fiz por lá com algumas bandas? Minha relação como músico, no célebre embate: músicoXdono de bar?
Nenhuma delas e todas elas, ou quase isso. Lá por noventa e dois, ano que o bar abriu seu portão pra galera subir a escadinha e chegar junto adentrando o casarão, eu fazia parte da banda The Thing. Banda que queria o mesmo que a maioria das outras bandas época queriam. Soar diferente, então como outras bandas misturava trash, funk,metal,rap, samba. Legal era que muitas bandas tinha como definição os mesmo estilos e realmente soavam diferentes, como nossos ídolos. Body Count e Biohazard. Red Hot e Faith no More. Nosso programa de sábado era o seguinte: ensaio no Estúdio Bizz marcado para o último horário da planilha das 22h às 00h. Claro rolava um pré aquecimento em alguma esquina do morro Santo Antônio regada a vinho. O ensaio já era um programa a parte. No ensaio dos sábados entravam no repertório apenas as músicas que precisavam de finalização ou eram smplismente repassadas mesmos. O grande objetivo do ensaio era fazer um "pocket show". Chegávamos com uma galera que ia se ajeitando de qualquer jeito pelos cantos do estúdio. Garrafas em punho e de mão em mão é obvio. A Lúcia dona do Bizz entrava no clima. Algumas talagadas e o estúdio já estava de portas abertas som rolando alto, luzes apagadas sala iluminada apenas por velas. Total imprudência com o equipamento.
Nesse embalo o ensaio marcado pra acabar as 00h encerrava às 02h da manhã. Dali parte do pessoal embarcava no fiat147 da Lúcia, umas dez por vezes mais, e rumava para o Garagem. O povo que sobrava cruzava a Santana a pé, o que também era interessante pois significava algumas várias paradas para calibragem etílica.
Chegando no bar era aquela alegria do reencontro comemorado com mais algumas cevas, como se fisesse alguns anos que o pessoal não se via. "Kilin in the name" no som e a pista era só nossa, Beastie Boys loucura e devaneio predominavam. Dançava até quase desmaiar, às até desmaiava mesmo. Mas claro, guardando energia pra volta, que como a ida era a pe, com a desvantagem de ser morro acima. Uma tática usual de um amigo meu era lá pelas 5h da manhã se recostar em um cantinho e ali ficar até a hora de ir embora. Curtindo um soninho revitalizador, ninado por Smashing Pumpkins e Breeders.
Essas são as melhores impressões que eu tenho do Garagem, se a trinca de sócios do bar nos achava apenas desordeiros que não pagavam pra entrar e pouco consumiam no interior do bar, essa é outra história. Outra histórias. Muitas histórias. De época diferentes do bar. Dos melhores e piores momentos você encontra no blog do Leo Felipe um dos sócios fundadores do bar Garagem Hermética.
Se você lembra, não conheceu ou simplesmente não se satisfaz apenas com uma história como a que acabei de contar, e assim espero, passe lá pelo foguete formidável do Loezinho. Por que outras histórias eu só conto em juízo acompanhado de meus advogados.
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