quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Estranho e A Jornalista

25 de fevereiro de um ano qualquer
A rotina do Estranho era essa: acordar, sair da cama e ir para o sofá, seu melhor amigo e companheiro de todas as horas. Ele também poderia ser conhecido como ‘O Homem do Sofá’. O Estranho queria ver A Jornalista e queria que Ela o visse também. Foi nesse dia que, empolgado com as anfetaminas, resolveu vestir sua melhor camisa xadrez e ir a um show de rock. Porto Alegre estava se modificando diante de seus olhos e caminhando pela Avenida Osvaldo Aranha ele comprou um baseado. Fumou ali na avenida mesmo, sozinho. Ele sentiu seu coração disparar. Saiu correndo, mas não sabia aonde ia. Estava ansioso para encontrar A Jornalista. Parou na esquina do Ocidente. Tinha festa, era show da Pública. Um cara baixinho e gordo avisava que a festa era fechada para a imprensa. O Estranho precisava de um convite para entrar. Sentiu que Ela estaria na festa. Nesta hora um cara alto e cabeludo saiu do Ocidente reclamando das músicas e atirou o convite na calçada. Provavelmente ele queria um heavy metal. O Estranho pegou o convite e entrou. Comprou um uísque. Ela estava lá, linda, com o mesmo vestido de bolinhas preto e branco. Ele ficou parado no balcão enquanto Ela se aproximava e perguntava:
[A Jornalista] – Você não é o escritor de muitos livros de sucesso aqui de Porto Alegre? Eu conheço você, esteve me observando na virada do ano na praia de Torres. Aliás, eu estava com este mesmo vestido, eu te vi na Redenção uma vez.
O Estranho ficou pasmo na hora, não conseguiu falar e seus pensamentos ficaram fora de si. Ela era linda, era a guria mais linda que Ele já tinha visto na vida. Com certeza Ele já a amava. Ele não sabia explicar o que as pessoas interpretam quando dizem que se apaixonam à primeira vista, mas com Ele aconteceu.
Ela falava em Radiohead, em Coldplay. Descrevia Pearl Jam com tanta naturalidade. O coração do Estranho sentiu um aperto inexplicável. Seus olhos congelaram nela. Mas tudo foi interrompido por disparos de tiros na Rua João Telles. Nesse momento todos caíram no chão e Ela o abraçou tão forte que Ele quase desmaiou por falta de ar. Passado o susto todos voltaram a dançar. A Jornalista rapidamente pegou um cigarro da bolsa, acendeu e disse:
[A Jornalista] – Deve ter sido a máfia italiana! Fiquei tão assustada. Achei que morreria e não veria mais a Valentine. Você não vai falar nada?
O Estranho levantou, espantado, o copo de uísque, tomou um gole e perguntou:
[O Estranho] – Quem é Valentine?
A Jornalista sorriu e confessou que era sua cadelinha vira-lata que havia adotado naquela semana. O Estranho esboçou um sorriso sem graça. Ao longo da noite foram muitas doses de uísque, maconha e pouca conversa. Ela se despediu e deixou seu telefone com Ele. Pediu para que ligasse para conversarem.

(trecho do Livro de Flora Dutra 'O Estranho e A Jornalista')

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