10.357 km em linha
desenhos a caneta bic de Teresa Poester e lançamento do livro de artista Résonances no Museu do Trabalho
Desenhos enormes produzidos com caneta bic, em gestos mínimos. Esse foi o mote para a nova exposição de Teresa Poester, que se inaugura dia 28 de outubro, às 19h, no Museu do Trabalho. São 8 desenhos de 150x150cm e três de 100x150cm feitos com caneta bic sobre papel Montval. Tudo começou em fevereiro deste ano, quando Teresa realizou, junto com a artista francesa Marianne Chanel, uma exposição na galeria Ars117 em Bruxelas intitulada 17.000 kilomètres em ligne. Procurando dados sobre a conservação da tinta das canetas esferográficas, deparou com algumas informações desencontradas sobre a distância percorrida pela linha de uma caneta bic. Teresa nunca descobriu o comprimento exato mas resolveu propor o título pois ambos os trabalhos, embora muito diferentes, tinham como ponto comum uma idéia de linha.
A artista retorna agora à mesma idéia pensando nas distâncias que percorreu com linhas durante todos os seus percursos no papel e fora dele ao longo dos últimos trinta anos em que se dedica ao desenho. Poderia ser um número qualquer mas resolveu escolher a distancia entre Porto Alegre e Eragny-sur-Epte na França duas cidades onde vive nos últimos anos e onde estes trabalhos foram realizados. Na ocasião lança o livro-objeto Résonances, que terá uma tiragem limitada de 100 exemplares impressos a partir de 120 imagens de desenhos e fotografias suas. Estas reproduções foram selecionadas das 750 imagens que compõem o vídeo Résonances de 78 minutos com música de Morton Feldman e montado em Porto Alegre em 2007 por Eny Schuch e Teresa Poester. O vídeo tem uma histórica peculiar: foi encomendado pelo pianista francês Aurelien Richard e fez parte da instalação sonora visual quando a peça For Bonita Marcus do compositor americano foi executada ao vivo pelo pianista na igreja de Gisors na Normandia, por ocasião das comemorações do dia do patrimônio público francês de 2007. Uma copia do DVD foi enviada a Barbara Monk Feldman, viúva do compositor, que elogiou a delicadeza da montagem. Morton Feldman, falecido em 1987 e John Cage criaram todo o movimento de transformação e de fusão da música, com a dança as artes cênicas e visuais que transformaram o cenário artístico americano nos anos cinqüenta. Esta versão do vídeo foi apresentada em DVD, com gravação ao piano de John Tiburi, em Porto Alegre, uma única vez, no vernissage da exposição de desenhos de Teresa Poester na galeria Bolsa de Arte em 2007. Um mini-video de três minutos, também intitulado Résonances, foi montado por Eny Schuch a partir das imagens de Teresa Poester para a mostra do Instituto de Artes Vaga-lume de 1998 e acompanha o lançamento do livro de artista nesta exposição no Museu do Trabalho.
Teresa Poester por ela mesma
Desenhar, para mim, sempre foi uma forma de registrar sentimentos e pensamentos com o corpo. Mas demorou muito tempo até eu colocar em prática o que realmente me interessava. E como a gente nunca aprende isso, o desenho continua.
Quando comecei a expor em Porto Alegre em 1978, procurava traduzir a representação alegórica de personagens sob a influência da situação do Brasil naquela época, da pop e da arte naif. Depois de um longo período morando na Espanha, comecei a pintar e a pintar paisagens que se tornaram cada vez mais abstratas. Aos poucos compreendi que não me interessava tanto o assunto mas a forma, ou seja, como eu estava pintando. As pinturas da série paisagens deram origem às da série janelas, enquadramento das paisagens, numa abstração mais geométrica, que por sua vez se transformaram na série grades, repetição das janelas ortogonais.
Durante esse período fui morar na França e a pintura retornou gradativamente ao desenho. Embora os materiais gráficos sejam os mesmos dos desenhos do início de minha trajetória, o desenho se afasta da figuração para se tornar o registro de um gesto rápido como um corte no ar, traços feito laços, uma luta de esgrima. Esses gestos repetitivos se fecham progressivamente numa trama opressiva da qual eu parecia não poder sair.
Aos poucos compreendi que o desenho da série grades tem ressonância com as árvores e os galhos secos no inverno da paisagem onde habito periodicamente na França, em contato direto com a natureza. A luta anterior se torna uma dança, os traços retos e marcados se transformam em linhas orgânicas e sinuosas. Desenhos que poderiam evocar vegetações de inverno se transformam em desenhos verão.
Depois de um extenso trabalho teórico/prático de minha dissertação de doutorado - Fronteiras da Paisagem: janelas e grades - procuro mostrar que a paisagem propicia, mais do que outros motivos, o processo de abstração na pintura. Esse trabalho parte da pintura para retornar ao desenho. A linha, segundo minhas constatações, traduz mais fielmente o gesto do que a mancha. Linha é movimento, seqüência de um ponto que se desloca no tempo e no espaço. Cores e massas são progressivamente dispensadas. O trabalho de conclusão dessa dissertação, desenhos a lápis grafite, foi mostrado em Porto Alegre em 2004 no Museu do Trabalho.
Entre idas e vindas para a França desde 1999, mostrei desenhos a lápis de cor e pastel na Galeria Bolsa de Arte em 1997. Nesta exposição já apresentei o início de um trabalho utilizando caneta-bic em grandes formatos. Sendo assim, a exposição 10.357 km em linha que agora apresento no Museu do Trabalho, é a continuação de uma pesquisa de depuração do desenho que procura enfatizar o gesto que linha registra, utilizando materiais os mais simples e ao alcance da mão, materiais de escrita, como é o lápis grafite e, agora, a caneta esferográfica.
Teresa Poester por Marianne Chanel – Paris, 2009
Teresa Poester se serve do desenho como uma caligrafia, uma escrita do corpo.Foi depois de concluída uma série de desenhos que a artista percebeu sua ressonância com a natureza. Mesmo que seus trabalhos evoquem a paisagem de Eragny sur Epte, onde foram realizados, eles nascem, na realidade, de suas pinturas abstratas.
Foram os seus desenhos, e não o inverso, que a ensinaram a olhar a paisagem. Teresa fotografa há anos as plantas e as pedras que compõem seu universo cotidiano. O que lhe interessa são as texturas, estruturas que, segundo a distância do observador, se tornam tramas abstratas.
10.357 km em linhadesenhos a caneta bic de Teresa Poester
lançamento do livro de artista Résonances
Abertura dia 28 de outubro, às 19h
Museu do Trabalho – Rua dos Andradas, 230 – Centro – Porto Alegre
Visitação: de 29 de outubro a 29 de novembro
De terça a sábado, das 13h30min às 18h30min
Domingos das 14h às 18h30min
Entrada franca
Visite: http://www.teresapoester.com.br/ / http://www.museudotrabalho.org/
Realização: Museu do Trabalho
desenhos a caneta bic de Teresa Poester e lançamento do livro de artista Résonances no Museu do Trabalho
Desenhos enormes produzidos com caneta bic, em gestos mínimos. Esse foi o mote para a nova exposição de Teresa Poester, que se inaugura dia 28 de outubro, às 19h, no Museu do Trabalho. São 8 desenhos de 150x150cm e três de 100x150cm feitos com caneta bic sobre papel Montval. Tudo começou em fevereiro deste ano, quando Teresa realizou, junto com a artista francesa Marianne Chanel, uma exposição na galeria Ars117 em Bruxelas intitulada 17.000 kilomètres em ligne. Procurando dados sobre a conservação da tinta das canetas esferográficas, deparou com algumas informações desencontradas sobre a distância percorrida pela linha de uma caneta bic. Teresa nunca descobriu o comprimento exato mas resolveu propor o título pois ambos os trabalhos, embora muito diferentes, tinham como ponto comum uma idéia de linha.
A artista retorna agora à mesma idéia pensando nas distâncias que percorreu com linhas durante todos os seus percursos no papel e fora dele ao longo dos últimos trinta anos em que se dedica ao desenho. Poderia ser um número qualquer mas resolveu escolher a distancia entre Porto Alegre e Eragny-sur-Epte na França duas cidades onde vive nos últimos anos e onde estes trabalhos foram realizados. Na ocasião lança o livro-objeto Résonances, que terá uma tiragem limitada de 100 exemplares impressos a partir de 120 imagens de desenhos e fotografias suas. Estas reproduções foram selecionadas das 750 imagens que compõem o vídeo Résonances de 78 minutos com música de Morton Feldman e montado em Porto Alegre em 2007 por Eny Schuch e Teresa Poester. O vídeo tem uma histórica peculiar: foi encomendado pelo pianista francês Aurelien Richard e fez parte da instalação sonora visual quando a peça For Bonita Marcus do compositor americano foi executada ao vivo pelo pianista na igreja de Gisors na Normandia, por ocasião das comemorações do dia do patrimônio público francês de 2007. Uma copia do DVD foi enviada a Barbara Monk Feldman, viúva do compositor, que elogiou a delicadeza da montagem. Morton Feldman, falecido em 1987 e John Cage criaram todo o movimento de transformação e de fusão da música, com a dança as artes cênicas e visuais que transformaram o cenário artístico americano nos anos cinqüenta. Esta versão do vídeo foi apresentada em DVD, com gravação ao piano de John Tiburi, em Porto Alegre, uma única vez, no vernissage da exposição de desenhos de Teresa Poester na galeria Bolsa de Arte em 2007. Um mini-video de três minutos, também intitulado Résonances, foi montado por Eny Schuch a partir das imagens de Teresa Poester para a mostra do Instituto de Artes Vaga-lume de 1998 e acompanha o lançamento do livro de artista nesta exposição no Museu do Trabalho.
Teresa Poester por ela mesma
Desenhar, para mim, sempre foi uma forma de registrar sentimentos e pensamentos com o corpo. Mas demorou muito tempo até eu colocar em prática o que realmente me interessava. E como a gente nunca aprende isso, o desenho continua.
Quando comecei a expor em Porto Alegre em 1978, procurava traduzir a representação alegórica de personagens sob a influência da situação do Brasil naquela época, da pop e da arte naif. Depois de um longo período morando na Espanha, comecei a pintar e a pintar paisagens que se tornaram cada vez mais abstratas. Aos poucos compreendi que não me interessava tanto o assunto mas a forma, ou seja, como eu estava pintando. As pinturas da série paisagens deram origem às da série janelas, enquadramento das paisagens, numa abstração mais geométrica, que por sua vez se transformaram na série grades, repetição das janelas ortogonais.
Durante esse período fui morar na França e a pintura retornou gradativamente ao desenho. Embora os materiais gráficos sejam os mesmos dos desenhos do início de minha trajetória, o desenho se afasta da figuração para se tornar o registro de um gesto rápido como um corte no ar, traços feito laços, uma luta de esgrima. Esses gestos repetitivos se fecham progressivamente numa trama opressiva da qual eu parecia não poder sair.
Aos poucos compreendi que o desenho da série grades tem ressonância com as árvores e os galhos secos no inverno da paisagem onde habito periodicamente na França, em contato direto com a natureza. A luta anterior se torna uma dança, os traços retos e marcados se transformam em linhas orgânicas e sinuosas. Desenhos que poderiam evocar vegetações de inverno se transformam em desenhos verão.
Depois de um extenso trabalho teórico/prático de minha dissertação de doutorado - Fronteiras da Paisagem: janelas e grades - procuro mostrar que a paisagem propicia, mais do que outros motivos, o processo de abstração na pintura. Esse trabalho parte da pintura para retornar ao desenho. A linha, segundo minhas constatações, traduz mais fielmente o gesto do que a mancha. Linha é movimento, seqüência de um ponto que se desloca no tempo e no espaço. Cores e massas são progressivamente dispensadas. O trabalho de conclusão dessa dissertação, desenhos a lápis grafite, foi mostrado em Porto Alegre em 2004 no Museu do Trabalho.
Entre idas e vindas para a França desde 1999, mostrei desenhos a lápis de cor e pastel na Galeria Bolsa de Arte em 1997. Nesta exposição já apresentei o início de um trabalho utilizando caneta-bic em grandes formatos. Sendo assim, a exposição 10.357 km em linha que agora apresento no Museu do Trabalho, é a continuação de uma pesquisa de depuração do desenho que procura enfatizar o gesto que linha registra, utilizando materiais os mais simples e ao alcance da mão, materiais de escrita, como é o lápis grafite e, agora, a caneta esferográfica.
Teresa Poester por Marianne Chanel – Paris, 2009
Teresa Poester se serve do desenho como uma caligrafia, uma escrita do corpo.Foi depois de concluída uma série de desenhos que a artista percebeu sua ressonância com a natureza. Mesmo que seus trabalhos evoquem a paisagem de Eragny sur Epte, onde foram realizados, eles nascem, na realidade, de suas pinturas abstratas.
Foram os seus desenhos, e não o inverso, que a ensinaram a olhar a paisagem. Teresa fotografa há anos as plantas e as pedras que compõem seu universo cotidiano. O que lhe interessa são as texturas, estruturas que, segundo a distância do observador, se tornam tramas abstratas.
10.357 km em linhadesenhos a caneta bic de Teresa Poester
lançamento do livro de artista Résonances
Abertura dia 28 de outubro, às 19h
Museu do Trabalho – Rua dos Andradas, 230 – Centro – Porto Alegre
Visitação: de 29 de outubro a 29 de novembro
De terça a sábado, das 13h30min às 18h30min
Domingos das 14h às 18h30min
Entrada franca
Visite: http://www.teresapoester.com.br/ / http://www.museudotrabalho.org/
Realização: Museu do Trabalho
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